Matriz é referência de vida, base de vínculos, circularização de relações

Matriz de identidade é o berço da consciência de quem somos, dos nossos valores como pessoa. Ela abriga a formação da nossa identidade. É o modelo de vínculos, referencial de vida, afeto, respeito e alegria. São registros de relações que filtram para a essência de cada um: referência materna, referência paterna, relação pai e mãe, relação homem e mulher, relação família. Registram-se afetos, o ser aceito, o ser amado, rejeições e abandonos.

A internalização da matriz começa no primeiro grupo da existência humana e não cessa nunca de atuar. Quantos outros grupos, cada um de nós, passa na história da vida! passamos pelo grupo escola, pelos grupos profissionais, sociais, esportivos, religiosos, artísticos e humanos.

Muitos durante a vida são renegados, com tendência a se isolarem. Sabemos que o clima, o fluido entre o EU da criança e o TU (mãe) será da maior importância na formação do EU e dará padrões e formas de relacionamentos futuros. O início está na relação EU e TU. Na fase da indiferenciação do eu-tu, a criança não sobrevive sozinha, necessita de alguém que cuide dela, que capte o que ela necessita, que passe a segurança que vai ser atendida.

A criança vai caminhando para ganhar sua identidade como pessoa, como individualidade, para discriminar o outro, o tu e o mundo. Entra uma terceira pessoa e inicia-se a relação triangular: eu com a mamãe, eu com o papai e o papai com a mamãe. Vencendo as etapas dos relacionamentos bipessoais e triangulares, o indivíduo cria preparo para se relacionar com o eles e em seguida, sentir-se parte de um conjunto, de uma comunidade de entrar no mundo do NÓS.

Esta é a fase da circularização, é quando a criança entra nas vivências grupais, passo importante para que seus futuros relacionamentos sociais sejam satisfatórios. É o início da história de cada um, com base na matriz de identidade. Os menos privilegiados, pela falta de uma referência sadia fazem abandonos, rompimentos. É desta maneira distorcida que buscam o que não lhes foi dado. Assim como as sementes, a matriz também necessita de adubo, de alguém que saiba cuidar para que possam gerar frutos sadios. O que seria de uma bela flor se todos a abandonarem.

Ela murcha, seca, morre. Felizmente, somente a mãe natureza não abandona e se faz presente pelo sol, pela chuva. Nos grupos humanos, nem sempre tem alguém que cuida da existência, da continuidade, da história, da responsabilidade, do amor. Alguns se perdem no caminho do próprio vazio, ignorando o prazer existencial: o de buscar o crescimento nas próprias relações. Olho no olho, fala com escuta, mãos que se afagam, a linguagem do corpo, da sensibilidade que levam ao encontro e a compreensão do outro.

É triste ver como pessoas supostamente tão próximas, descartam uns aos outros; pais que abandonam filhos se ausentando dos cuidados físicos e afetivos quando a criança ainda tanto precisa da relação triangular. A matriz é fonte energética, que nutre o ser humano, com alimento saudável ou prejudicial ao seu crescimento. Quem ama cuida, toca, age e não abandona. E assim a humanidade vai tecendo a rede das relações, e os grupos são estruturados a partir das referências que tem.

E as relações rolam no tempo, sempre precisando de bons modelos. E é vendo nossa sociedade com modelos tão comprometidos, rejeições e abandonos, que reforçamos a chance de uma rematrização do ser humano. Esta rematrização se faz nos grupos psicodramáticos, onde há uma linguagem de respeito, de segurança, proteção, onde há o compartilhar, onde há troca, sensibilidade e a ética do cuidar. Todas as crianças e jovens precisam de uma matriz saudável, pois ela é condutora de atitudes futuras, de posturas relacionais. Ouvimos de muitos pais: dei o estudo e pronto! As relações de troca, a mão -guia, ajudam os filhos encontrarem seus caminhos. Com tantas mudanças nas relações familiares, dificuldades emocionais prejudicando as convivências, muitos jovens demoram a encontrar-se. As mãos que foram bem conduzidas tendem a conduzir com eficiência.

Vamos olhar a mudança nas relações familiares, como um novo movimento para reestruturar a convivência grupal. Hoje o ser humano precisa de relações onde há comunicação, colaboração e respeito. Assim estamos reconstruindo matrizes sadias e conscientes que podem sedimentar melhor a formação de novas gerações. O abandono não resolve, simplesmente responde ao desejo de fugir das responsabilidades. A essência da relação eu-tu-ele, está na capacidade de amar de cada um, que depende de crescimento emocional.

Considerando que “a matriz de identidade” não cessa nunca de atuar, é bom saber que sempre teremos a oportunidade de dar a nós mesmos e aos que amamos, a possibilidade da rematrização para uma existência melhor. Este artigo se encontra disponível também na revista OQ Joinville ano 1 nº3

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