Percebo que  os pais de adolescentes estão questionando o seu papel, muito mais necessária e pertinentemente. Ou anestesiados se submetem a uma sensação de impotência perante novos códigos de conduta, reativa e filosoficamente manifestos.

Tudo é muito rápido! E intensificado pela quebra de valores. E no contraponto de uma busca, por parte dos filhos – própria da idade – no sentido de tomarem, neste “segundo nascimento”, que é a adolescência, sua identidade social e, muito pessoal; mas também estimulados pela sensação do “tudo é permitido”, os pais e filhos ficam ou impondo suas vontades ou silenciados em sua angústia.

Claro que existem famílias muito bem estruturadas e com excelente comunicação, com dialógica relação! Mas observo muita falta de limites e alcances.

O abuso de substâncias psicoativas – álcool e outras drogas , a banalização do sexo, a indisciplina escolar, desmotivação e descrédito quantos às instituições… são tantas situações de fato que me levam a questionar outra falta. A de perspectivas e de vontades. Para a superação de uma manifesta depressão da sociedade, assim como para a resolução de conflitos no contexto familiar.

Anestesiar o mal não é resolvê-lo. Posterga-se muito. Evita-se demais. Nega-se a toda hora. E não se pode negar que se possibilitar encontros saudáveis entre pais e filhos, na medida de um novo olhar referente á tomada clara dos papéis, com compreensão, tolerância, flexibilidade, respeitos, aceitação, e portanto, com um exercício amoroso, mais leve e harmonioso; é o caminho para o bem estar no contexto familiar.

O discurso e a prática! Há que se estabelecer um jeito para esse encontro! Que seja verdadeiro e autêntico.

 

Edson de Souza Almeida

Psicólogo clínico psicodramatista e terapeuta familiar sistêmico.

No mês da primavera, a estação da beleza, do perfume, da abundância das cores, escrevo sobre a importância do NÃO no crescimento e formação de nossas crianças. Os jardins mais floridos e admirados pelos olhos são aqueles que no momento certo recebem a poda e os cuidados necessários para sempre renovar com força e beleza.

Ao educar nossas crianças, nos deparamos com o momento de podar algumas ações. Dizer o NÃO é preciso e necessário, mas por vezes o amor é tão forte, que cedemos o que não poderíamos ceder, deixamos o que não poderíamos deixar, ou mesmo, preferimos ceder para não constranger a criança ou nos constranger com a situação.

Precisamos, primeiramente apresentar a condição dos limites na nossa própria vida. Disciplina, regras, rotina são fundamentais para facilitar o NÃO na educação de nossos filhos.

Justificamos-nos muitas vezes pelo excesso de trabalho, pelo pouco tempo que temos com eles. Carregamos culpas pela ausência e tentamos compensar pelo SIM, pelo valor do prazer, pela alegria fácil e pelo materialismo imediato. Os pais são pais e não amigos, sabendo dizer o NÃO estarão exercendo uma das maiores competências como educadores na formação de crianças seguras e saudáveis emocionalmente.

A vida irá apresentar frustrações no seu desenvolvimento, por isso, exercer o NÃO nos momentos necessários é dar a oportunidade a criança e entender os limites. A vida tem limites, nós temos nossos limites, não podemos tudo, não alcançamos tudo e precisamos experenciar essa condição, assim a dor da frustração chegará como uma forma construtiva de seguirmos em frente e não como condição de derrota e impotência.

A disciplina na educação é uma condição necessária para que a criança aprenda o alto controle, a empatia, valores humanos, reconhecer seus sentimentos, suas responsabilidades e o sentir prazer em suas ações. Lembrando que educar, ensinar, dar limites, ser modelo de vida, não surge de sentenças, sermões autoritários ou chantagem emocional. O excesso de limites interfere na autoconfiança, trazendo insegurança, falta de habilidade social e desvalor.

Compreendendo o limite! 

  • Confie no seu filho, ele é mais forte e capaz do que você imagina.
  • Não dramatize tanto o fato de ter que privá-lo de algo.
  • Dizer NÃO com CONVICÇÃO, EQUILÍBRIO, CONSCIÊNCIA, sem agressividade e com amor é a principal ferramenta do educador na formação do caráter das nossas crianças.
  • Perceber que negar o que precisa ser negado, é contribuir para o futuro e felicidade do seu filho.
  • Livre-se da culpa, ela enfraquece, e o que seu filho precisa é de sua força e segurança e não dos novos brinquedos do mercado.

Buscar o equilíbrio entre o amor e o limite, não é tarefa fácil, mas precisamos estar abertos para essa experiência como educadores, buscando a medida certa para formar nossos filhos. Quem ama educa, cuida, ajuda, orienta e renova seu olhar a cada dia.

Não existem receitas nesse caminho, as experiências irão fabricar novas formulas para cada momento, cada criança, cada relação. É apenas sentir e saber a hora certa de agir, e de maneira alguma deixar de fabricarmos formulas de amar e dar limites para o nossos filhos.Cada criança chega no momento certo, na família certa e com os propósitos que nós adultos precisamos receber e aceitar como forma de crescimento e entendimento, nessa profunda e bela lição de vida, SER PAIS.

As experiências traumáticas podem ser resultantes de violência (assalto, estrupo…), de desastres naturais (enchentes, terremotos), de acidentes (carro, avião, incêndios) e de desastres causados deliberadamente (guerra, atos terroristas…).

A exposição a situações traumáticas é responsável pela ocorrência de um transtorno de ansiedade, conhecido como estresse pós-traumático (TEPT).

Critérios Diagnósticos

  • Revivência persistente do evento: pesadelos, flashbacks, pensamentos e imagens intrusivos;
  • Esquiva persistente de determinados estímulos, atividades e situações relacionadas ao trauma, bem como sintomas depressivos (diminuição de interesse, isolamento, tristeza, etc.);
  • Persistente elevação de excitabilidade: distúrbio do sono, irritabilidade, dificuldade de concentração, hipervigilância, reações de sobressalto, etc.

Os sintomas devem ter a duração de, pelo menos, um mês para que o diagnóstico seja estabelecido.

Diversos estudos de tratamento apontam para a maior eficácia de antidepressivos, especialmente a sertralina e a paroxetina, seguindo de acompanhamento psicoterápico, mais especificamente a terapia da exposição. A exposição à memória traumática promove a extinção de esquiva e faz com que o evento possa ser lembrado sem as respostas de medo intenso a ele associadas.

Evitar o assunto ou interessar-se por ele apenas quando é parte do noticiário e trata de pessoas distantes não são atitudes esperadas de quem trabalha com a saúde e impedem que as vítimas encontrem tratamento e suporte social adequado para lidar com as consequências.

Texto: Psicóloga Roberta Balsini

 

 

Esses adolescentes… o que falam? O que sentem? Provocam, despertos, espertos. O que querem? O que recebem? De seus pais, de seus adultos…

Assim como nesse movimento de intensas transformações, os pais também alcançam um momento muito forte no desempenho de seu papel como cuidadores e orientadores de seus filho, não mais crianças. E sim, nesse segundo nascimento, adolescentes, tomados de outros olhares e escutas. Estão agora olhando para muito além do conhecido. E escutando outras vozes, questionam e colocam seus pais em um contraponto diferente, muitas vezes recorrente. O contexto é outro. E tem vezes que se repetem os confrontos, até que se encontre a resposta, inclusive para questões não formuladas claramente.

Suas falas são significativas:

“A paz que você procura está no silêncio que você não faz “. C. 17 anos, janeiro de 2014.

“Se a infância é o tempo para aprender a viver, a idade adulta deveria ser o tempo para se aprender a morrer, com dignidade e ética “. M. 15 anos, fevereiro de 2014.

Há anos atrás, pelos idos dos anos oitenta, no papel de educador, escutei o menino interno, com o diagnóstico do desvio de conduta com alta periculosidade. Falou ser “o adolescente bonzinho e o menor infrator ” E.  15 anos, 1981.

O que quis dizer? Que somos todos assim, soma de partes? Que temos o cedo e o tarde, o longe e o perto em nossas vida?

A vida é dialógica. Temos o papel e o contra papel. Só sou pai porque tenho o filho. E sou filho, eu mesmo, não sua extensão.

Soltar a pipa. Dar linha – e que seja sem cerol!

A pipa vai aos ares, impulsionada pelo que a solta e ao mesmo tempo segura. Dar corda, e cuidar. Quão mais distante do soltador da pipa, maior é a força do vento. Logo se faz uma certa contração muscular. Se olha a pipa com mais atenção e cuidados, e se sente a força que se faz para não perdê-la.

Os filhos, voam. Devem alcançar os céus! Esse é um desejo feliz de seus pais. Que consigam voar, alcançar… que possam ser felizes em sua vida.

E vejam, na medida de vôos  mais altos, os cuidados hão que ser mais praticados. Os filhos crescem em seus tamanhos, formas e cores. São nossas pipas voadoras! Pipa tem que voar;  se não, pipa não é, em sua plenitude. Que bom que haja esse que olha, com os pés no chão!

Edson de Souza Almeida é psicoterapeuta de adultos e adolescentes, atendendo pelos procedimentos individual, de casal, familiar e grupal.  Terapeuta Familiar Sistêmico e Psicodramatista.

 

 

Matriz de identidade é o berço da consciência de quem somos, dos nossos valores como pessoa. Ela abriga a formação da nossa identidade. É o modelo de vínculos, referencial de vida, afeto, respeito e alegria. São registros de relações que filtram para a essência de cada um: referência materna, referência paterna, relação pai e mãe, relação homem e mulher, relação família. Registram-se afetos, o ser aceito, o ser amado, rejeições e abandonos.

A internalização da matriz começa no primeiro grupo da existência humana e não cessa nunca de atuar. Quantos outros grupos, cada um de nós, passa na história da vida! passamos pelo grupo escola, pelos grupos profissionais, sociais, esportivos, religiosos, artísticos e humanos.

Muitos durante a vida são renegados, com tendência a se isolarem. Sabemos que o clima, o fluido entre o EU da criança e o TU (mãe) será da maior importância na formação do EU e dará padrões e formas de relacionamentos futuros. O início está na relação EU e TU. Na fase da indiferenciação do eu-tu, a criança não sobrevive sozinha, necessita de alguém que cuide dela, que capte o que ela necessita, que passe a segurança que vai ser atendida.

A criança vai caminhando para ganhar sua identidade como pessoa, como individualidade, para discriminar o outro, o tu e o mundo. Entra uma terceira pessoa e inicia-se a relação triangular: eu com a mamãe, eu com o papai e o papai com a mamãe. Vencendo as etapas dos relacionamentos bipessoais e triangulares, o indivíduo cria preparo para se relacionar com o eles e em seguida, sentir-se parte de um conjunto, de uma comunidade de entrar no mundo do NÓS.

Esta é a fase da circularização, é quando a criança entra nas vivências grupais, passo importante para que seus futuros relacionamentos sociais sejam satisfatórios. É o início da história de cada um, com base na matriz de identidade. Os menos privilegiados, pela falta de uma referência sadia fazem abandonos, rompimentos. É desta maneira distorcida que buscam o que não lhes foi dado. Assim como as sementes, a matriz também necessita de adubo, de alguém que saiba cuidar para que possam gerar frutos sadios. O que seria de uma bela flor se todos a abandonarem.

Ela murcha, seca, morre. Felizmente, somente a mãe natureza não abandona e se faz presente pelo sol, pela chuva. Nos grupos humanos, nem sempre tem alguém que cuida da existência, da continuidade, da história, da responsabilidade, do amor. Alguns se perdem no caminho do próprio vazio, ignorando o prazer existencial: o de buscar o crescimento nas próprias relações. Olho no olho, fala com escuta, mãos que se afagam, a linguagem do corpo, da sensibilidade que levam ao encontro e a compreensão do outro.

É triste ver como pessoas supostamente tão próximas, descartam uns aos outros; pais que abandonam filhos se ausentando dos cuidados físicos e afetivos quando a criança ainda tanto precisa da relação triangular. A matriz é fonte energética, que nutre o ser humano, com alimento saudável ou prejudicial ao seu crescimento. Quem ama cuida, toca, age e não abandona. E assim a humanidade vai tecendo a rede das relações, e os grupos são estruturados a partir das referências que tem.

E as relações rolam no tempo, sempre precisando de bons modelos. E é vendo nossa sociedade com modelos tão comprometidos, rejeições e abandonos, que reforçamos a chance de uma rematrização do ser humano. Esta rematrização se faz nos grupos psicodramáticos, onde há uma linguagem de respeito, de segurança, proteção, onde há o compartilhar, onde há troca, sensibilidade e a ética do cuidar. Todas as crianças e jovens precisam de uma matriz saudável, pois ela é condutora de atitudes futuras, de posturas relacionais. Ouvimos de muitos pais: dei o estudo e pronto! As relações de troca, a mão -guia, ajudam os filhos encontrarem seus caminhos. Com tantas mudanças nas relações familiares, dificuldades emocionais prejudicando as convivências, muitos jovens demoram a encontrar-se. As mãos que foram bem conduzidas tendem a conduzir com eficiência.

Vamos olhar a mudança nas relações familiares, como um novo movimento para reestruturar a convivência grupal. Hoje o ser humano precisa de relações onde há comunicação, colaboração e respeito. Assim estamos reconstruindo matrizes sadias e conscientes que podem sedimentar melhor a formação de novas gerações. O abandono não resolve, simplesmente responde ao desejo de fugir das responsabilidades. A essência da relação eu-tu-ele, está na capacidade de amar de cada um, que depende de crescimento emocional.

Considerando que “a matriz de identidade” não cessa nunca de atuar, é bom saber que sempre teremos a oportunidade de dar a nós mesmos e aos que amamos, a possibilidade da rematrização para uma existência melhor. Este artigo se encontra disponível também na revista OQ Joinville ano 1 nº3

Festas de casamento, juras de amor, viagens, a casinha dos sonhos! O encanto pelo outro, a vontade de estar junto, o cuidar e ser cuidado, assim começam as relações. Duas pessoas se encontram na vida, sentem o desejo de se aproximar, conviver e passam a ter a vida a dois.

A vontade de estar sempre juntos, o beijo, a brincadeira, a emoção do toque, faz crescer a convivência. O tempo passa e chega, o dia a dia, da relação. Os olhos começam a enxergar as atitudes de cada um, o jeito de ser, as manias, os defeitos, antes encobertos pela fantasia da paião. Somam-se duas histórias, duas famílias de origem, conteúdos internos de cada um e juntos passam a administrar o caminho da vida. Em algumas relações, chegam os filhos, e nem sempre vão encontrar pais e mães prontos para os papéis de pai e de mãe.

O sentido da vida será transmitido pelos pais através de suas vivências, para esta criança que vem ao mundo. Quantas mamães que ainda não estão prontas para a maternidade ”Quantos papais que ainda no papel de filho, dependentes, já estão gerando filhos” Precisam ainda de plenos cuidados e é difícil cuidar de alguém. Permanecem na relação simbiótica, narcísica e egocêntrica.

Na relação a dois, vivem intensamente as relações da paixão, mas não estão prontos para a construção do amor. A relação afetiva primária materna, mal resolvida, ou não internalizada vai refletir na relação do triângulo: mãe, filho e pai. E quando isso acontece, é comum que o homem, não preparado para ser pai, sinta-se abandonado pela mulher que cuida da criança e também, tenha dificuldade em compartilhar com prazer, o cuidar do filho.

Chega a competir com o filho a atenção da mãe mulher. Se coloca de lado, carente, como abandonado. Muitos nesta fase partem em busca de uma outra paixão, que viva exclusivamente para ele. Vivem relações e não relacionamentos.

Recentemente numa palestra, alguém indagou: se vemos esta dificuldade refletindo no compartamento de um filho, como localizar a culpa e o que fazer? – “não vamos falar de culpa, mas sim, da responsabilidade e interesse dos DOIS em procurar ajuda e querer melhorar”. Muitas vezes o conteúdo de um pode ser mais pesado para a harmonia do ambiente. Mas se um dos dois ficou na fase regredida,simbiótica das relações, certamente vai resistir a olhar para si, pois não consegue e não permite quebrar sua couraça.

E é olhando para nossa fragilidade que nos tomamos fortes e verdadeiros. A beleza da vida está em nos conhecer, viver emoções, e aprender a achar soluções para as nossas dificuldades. Quando os dois na relação estão abertos à busca do crescimento, o prognóstico é bem melhor: Aprendemos a não apontar as dificuldades do outro, mas sim, a olhar para os próprios conteúdos e respeitar os conteúdos do outro. Cada um se resolve no seu próprio ritmo, e juntos podem tentar construir um caminho comum.

Festas de casamento, juras de amor” vimos que a maturidade de cada um somada ao desejo de acertar, são responsáveis pelo bem estar da relação. “Para Moreno, considerado o pai do psicodrama”, um verdadeiro encontro implica na inversão de papéis: “te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus.” Infelizmente, muitos encontros levam a desencontros.

No Brasil aumentam a cada ano os rompimentos. Não existem anos de casados para as crises, mas sim fases do relacionamento. Fase da paixão e encantamento, reconhecimento do outro, atritos com relação as diferenças, posse, competição, e como já falamos, só se ambos se interessam pela busca de ajuda, vem a chance do reencontro.

A entrega do casal para a busca de ajuda direciona a relação para uma fase de maturidade e respeito pelas diferenças, possibilitando uma convivência melhor e até de carinho. Entram também modelos, conteúdos internos, e a matriz de casamento das famílias de origem de cada um. Muitas vezes um internalizou a estrutura de família como núcleo agradável, o outro como compromisso, peso, sufoco, chatice, competição.

Quando aparecem estas duas histórias, vão, sem dúvida, bater no desencontro. E para arrumar, ambos tem que desejar a busca de ajuda para refazer as cenas em busca do bem estar da convivência.

Vamos agora considerar o desgaste da relação amorosa, as diferenças de objetivos de vida, a separação do casal. E os filhos? Continuam crescendo, estão no processo de formação. Pai será sempre pai e mãe sempre mãe. A criança precisa de respeito, cuidado, afeto e disciplina. A meta de ambos deverá sempre ser favorecer um bom desenvolvimento do filho.

Não devem de maneira imatura, competir quem é melhor, quem brinca mais ou quem faz mais as vontades da criança. Estariam transferindo para os filhos em formação “coisas não resolvidas entre eles”. A consciência de educar deve ser a mesma para os dois. Se existirem ainda mágoas por parte de um, que venham a dificultar as metas da educação, os pais deveriam, PELO BEM DO FILHO, procurar acompanhamento terapêutico para lidar com os acertos. O objetivo é cuidar bem da criança, tanto por parte do pai, quanto por parte da mãe.

E os pais se sentem muito melhor, quando percebem que podem crescer.

Muitos pais só assumem o filho nos finais de semana, nas horas de lazer, brincadeiras, passeios. O ideal é que convivam também um dia de semana, para lidarem com a rotina escolar do filho. A criança sempre necessita de amor e disciplina. Relação com os filhos é para toda a vida. Os pais é que jogam a semente do amor e respeito no coração dos filhos. Depois precisam cuidar para cultivar bons frutos.

No sentimento e responsabilidade de cada pai, já deveria estar internalizado o desejo de cuidar do filho, proporcionando a ele, qualidade de vida. Na ética do ser pai, na ética do ser mãe, a pensão necessária para a vida dos filhos deveria ser justa e espontânea e não precisariam existir buscas na justiça. Como seria mais tranquilo para as crianças e adolescentes se o papai olhasse espontaneamente para as suas necessidades e sentisse prazer em estar proporcionando-lhe o conforto de vida.

Vamos reavaliar. Se tivemos oportunidade de ser pai e mãe, vamos aprender, vamos desfrutar deste papel com dignidade. Estamos a cada momento tecendo a teia das relações, através das palavras, dos silêncios, dos gestos, do carinho, da compreensão, do apoio, do compartilhar e principalmente através do nosso crescimento e do respeito ao outro.

Amor? Filhos para sempre. Filhos gente, ou filhos sementes, que deixamos, como parte de nós, para os canteiros das relações, para continuar a construção do mundo e fazer parte da história da humanidade.

A sociedade, o grande continente que acolhe o ser humano, chamada sociedade do conhecimento e da comunicação, está criando, contraditoriamente, cada vez mais abandono, exclusões e solidão entre as pessoas. O tipo de sociedade do conhecimento e da comunicação que temos desenvolvido nas últimas quatro décadas, vem ameaçando a essência humana. Na medida que vamos avançando na tecnologia das produções, a serviço de bens materiais, assistimos o ser humano abandonado na sua essência, num desencontro com  sua razão existencial.

Escutamos nas promessas políticas: precisamos muito investir na educação, na formação e na informação. Certamente o saber é imprescindível; o saber nos confere o poder. Saber utilizar o poder da ciência e da técnica, de modo construtivo, é o caminho para o crescimento.

A serviço de que projeto do ser humano, da sociedade e do mundo utilizamos o poder da ciência e da tecnologia? A resposta pede mais que ciência, mais que mestrado, em assuntos específicos. A resposta a esta questão é uma filosofia do SER, é uma reflexão espiritual, que nos fale do sentido de todos os sentidos e que saiba organizar a convivência humana, em volta da mesma sinergia, da ética, cooperação, respeito e solidariedade.

A palavra mágica é CUIDAR; cuidar é mais que um ato é uma atitude. O modo de ser cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano. Sem o cuidado ele não aprende a se cuidar, nem cuidar do outro. O sintoma mais doloroso já constatado nas últimas décadas, é um difuso mal estar da civilização, embutido no contexto de descuido, descaso e abandono.

Há um descuido pela fragilidade humana, quando o ser se torna não produtivo. Há um descuido pelo respeito nas relações. Há um descuido pela ética de vida na igualdade dos sofrimentos, na atitude de solidariedade a dor. Há um descuido pela urgência de rever valores familiares, dentro de uma sociedade materialista.

A nova filosofia busca um novo caminho: desenvolver no ser humano, o sentimento de pertencer à família humana, à terra, ao universo, ao propósito divino de continuar a construção do mundo. Onde buscar estas respostas quando assistimos o mundo contaminado pelos prazeres momentâneos?

Prazeres muitas vezes destrutivos, como a bebida, a droga, a ganância pelo poder, pelo dinheiro, o abuso do corpo, o vício, o jogo, o domínio pela violência, a compulsão pelo objeto. Sobre o conjunto destas questões devemos refletir com atenção, até construirmos um novo estado de consciência. Buscamos hoje, ansiosamente, uma espiritualidade simples, sólida, baseada na ética da responsabilidade, da solidariedade e da compaixão fundada no cuidado.

Buscamos o valor instrínseco de cada coisa, no trabalho bem feito, na competência, na honestidade e na transparência das intenções. Estas respostas não encontramos prontas em livros, em orientações, em cursinhos. Devemos cavar mais fundo. Elas emergem de um trabalho coletivo, que se faz, caminhando em busca de uma nova matriz. É no processo de crescimento nos grupos de psicodrama, que compartilhamos nossas vidas comuns e simples.

Qual a dose certa do cuidado?

Não há receita. O essencial é o comprometimento com o cuidado. O ser humano é um ser que depende de outro para existir. É um ser das relações, é um ser gregário! Daí o nosso cuidado com as relações, com os vínculos, com os papéis que desempenhamos na vida. Acompanhando na cínica a dificuldade de profissionais da área da educação, saúde e segurança, que precisam estar bem para cuidar, elaboramos um projeto de estudo e tratamento para cuidar de quem cuida.

Hoje já com resultados apresentados em gráficos, e mais importante, através da própria resposta humana de quem participa do programa mantemos junto à secretaria de educação do município, o berço terapêutico do programa “cuidando de quem cuida”.

Através da metodologia psicodramática, buscamos novos olhares, um novo sentir, um ouvir e falar harmoniosos. Buscamos experimentar novas emoções que é compartilhado entre todos. É de uma riqueza ímpar, sentir as emoções de um olhar que aprende a falar, de um afago que sente o acariciar, de um abraço, de um sorriso, de um não sem medo, de um sim sem censura.

É a busca do ser espontâneo e criativo. É partindo das reconstruções relacionais traumáticas de nossa infância, que encontramos a riqueza de nosso interior, que se torna mais capaz de viver e de amar. Durante o processo do grupo, vamos construindo novas histórias, refazendo cenas da vida, traçando novos enredos, desvendando mistérios, regras.

O ser humano só estará pronto quando amar toda a humanidade.

Introdução

Preocupar-se excessivamente com limpeza, lavar as mãos a todo o momento, revisar diversas vezes portas, janelas ou o gás antes de deitar, não usar roupas vermelhas ou pretas, não passar em certos lugares com receio de que algo ruim possa acontecer depois, não sair de casa em determinadas datas, ficar aflito caso os objetos sobre a escrivaninha não estejam dispostos de uma determinada maneira, são alguns exemplos de ações popularmente consideradas manias e que, na verdade, são sintomas de um transtorno: o transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC.

Considerado raro até há pouco tempo, o TOC é uma doença bastante comum, acometendo, aproximadamente, um em cada 40 ou 50 indivíduos. No Brasil, é provável que existam entre 3 e 4 milhões de portadores. Muitas dessas pessoas, embora tenham suas vidas gravemente comprometidas pelos sintomas, nunca foram diagnosticadas e mais dificilmente ainda, tratadas. Talvez a maioria desconheça o fato de esses sintomas constituírem uma doença para a qual, de uns anos para cá, já existem tratamentos bastante eficazes.

O TOC é considerado uma doença mental grave por vários motivos: está entre as dez maiores causas de incapacitação, de acordo com a Organização Mundial de Saúde; acomete preferentemente indivíduos jovens ao final da adolescência e muitas vezes começa ainda na infância sendo raro seu início depois dos 40 anos; geralmente é crônica e, se não tratada, na maioria das vezes se mantêm por toda a vida. Os sintomas raramente desaparecem por completo: o mais comum, quando não é realizado nenhum tratamento, é que apresentem flutuações ao longo da vida, aumentando e diminuindo de intensidade, mas estando sempre presentes em algum grau.

Em aproximadamente 10% dos casos, tendem a um agravamento progressivo, podendo incapacitar os portadores para o trabalho e acarretar sérias limitações à convivência com a família e com as outras pessoas, além de submetê-los a um grande e permanente sofrimento. Felizmente, têm sido desenvolvidos novos métodos de tratamento, utilizando medicamentos e psicoterapia (terapia cognitivo-comportamental), que conseguem reduzir os sintomas e, muitas vezes, eliminá-los completamente.

Sou ou não um portador de TOC?

Muitos pacientes com TOC só reconhecem sua condição ao ler ou ouvir na mídia algo sobre a doença. Estudos demonstram há uma demora, em média, de mais de oito anos entre o aparecimento dos sintomas do TOC até ele ser diagnosticado por algum profissional. Se você tem dúvida se é ou não portador do TOC procure responder às perguntas a seguir:

  1. Preocupo-me demais com sujeira, germes, contaminação, pó ou doenças.
  2. Lavo as mãos a todo o momento ou de forma exagerada.
  3. Limpo ou lavo demasiadamente o piso, móveis, roupas ou objetos.
  4. Tomo vários banhos por dia ou demoro demasiadamente no banho.
  5. Não toco em certos objetos (corrimãos, trincos de portas, dinheiro, etc.) sem lavar as mãos depois.
  6. Evito certos lugares (banheiros públicos, hospitais, cemitérios) por considerá-los pouco limpos ou achar que posso contrair doenças.
  7. Verifico portas, janelas, o gás, mais do que o necessário;
  8. Verifico repetidamente o fogão, as torneiras, aparelhos elétricos, interruptores de luz mesmo após desligá-los.
  9. Minha mente é invadida por pensamentos desagradáveis e impróprios, que me causam aflição e que nem sempre consigo afastá-los.
  10. Tenho sempre muitas dúvidas, repetindo várias vezes a mesma tarefa ou pergunta para ter certeza de que não vou errar.
  11. Preocupo-me demais com a ordem, o alinhamento ou simetria das coisas, e fico aflito(a) quando estão fora do lugar.
  12. Necessito fazer coisas de forma repetida e sem sentido (tocar, repetir certos números, palavras ou frases).
  13. Sou muito supersticioso com números, cores, datas ou lugares.
  14. Necessito contar, repetir frases, palavras, enquanto estou fazendo coisas.
  15. Guardo coisas inúteis (jornais velhos, caixas vazias, sapatos ou roupas velhas) e tenho muita dificuldade em desfazer-me delas.

*Se uma das respostas for positiva, é bem provável que você seja portador de TOC.

O que é transtorno obsessivo compulsivo?

O TOC é um transtorno mental incluído pela classificação da Associação Psiquiátrica Americana entre os chamados transtornos de ansiedade. Está classificado ao lado das fobias (medo de lugares fechados, elevadores, pequenos animais como ratos ou insetos), da fobia social (medo de expor-se em público ou diante de outras pessoas), do transtorno de pânico (ataques súbitos de ansiedade e medo de freqüentar os lugares onde ocorreram os ataques), etc.

Os sintomas do TOC envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou ruim , obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões e/ou compulsões ou rituais. Além disso, os portadores do TOC sofrem de muitos medos (de contrair doenças, de cometerem falhas, de serem responsáveis por acidentes).

Em razão desses medos, evitam fazer coisas que de acordo com o que acreditam poderia provocar tais desastres. Em razão disso, no TOC são muito comuns comportamentos evitativos ou evitações (não tocar em trincos de portas, não cumprimentar outras pessoas, não usar banheiros públicos, etc.). As evitações, embora não específicas do TOC, são, em grande parte, as responsáveis pelas limitações que o transtorno acarreta. Esses são os sintomas-chave do TOC.

 O que são obsessões?

Obsessões são pensamentos, idéias, imagens, palavras, frases, números ou impulsos que invadem a consciência da pessoa de forma repetitiva e persistente. Sentidas como estranhas ou impróprias, geralmente são acompanhadas de desconforto, medo, angústia, culpa ou desprazer.

O indivíduo obsessivo, mesmo desejando ou se esforçando, não consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas absurdas ou ilógicas, as obsessões causam aflição e levam a pessoa a fazer algo (rituais ou compulsões) ou a evitar fazê-lo (evitações) para livrar-se do medo ou do desconforto.

As obsessões mais comuns se relacionam-se com:

sujeira, contaminação dúvidas simetria, perfeição, exatidão ou alinhamento impulsos ou ensamentos de ferir, insultar ou agredir outras pessoas sexo ou obscenidades armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar preocupações com doenças ou com o corpo religião (pecado, culpa, escrúpulos, sacrilégios ou blasfêmias) pensamento mágico (números especiais, cores, datas e horários).

 O que são compulsões ou rituais?

Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente.

Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar, repetir perguntas, etc. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão acompanhada de aflição. Nem sempre têm conexão realística com o que desejam prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça).

Nesse caso, os rituais são chamados de mágicos. Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como sinônimos, embora o termo ritual possa gerar alguma confusão na medida em que as religiões, de forma geral, adotam comportamentos repetitivos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis avemarias, ladainhas. Existem rituais para batizados, casamentos, funerais, etc.

Além disso, certos costumes culturais, como a cerimônia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os índios, ou um funeral com honras militares, envolvem ritos que lembram as compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa preferência para o termo compulsão quando se fala em TOC.

As compulsões mais comuns são:

  1. lavagem ou limpeza
  2. verificações ou controle
  3. repetições ou confirmações
  4. contagens
  5. ordem, arranjo, simetria, seqüência ou alinhamento
  6. acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis
  7. compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar

O TOC é um transtorno crônico que, muitas vezes, se inicia na infância, entre 9 e 11 anos e acomete principalmente indivíduos jovens até os trinta anos, podendo durar toda a vida. O pico de maior incidência é ao redor dos 20 anos.

Pode consumir muito tempo da pessoa na execução de rituais, ou ocupar sua mente por muitas horas durante o dia pelas obsessões, impedindo-a de ocuparse com pensamentos ou atividades mais produtivas. O que agrava ainda mais o quadro é que tal comprometimento é sempre acompanhado de muita angústia, aflição, sentimentos de impotência, diminuição da auto-estima e depressão.

Muitos pacientes têm vergonha de seus rituais e até mesmo de seus pensamentos obsessivos, e em função disto procuram ocultá-los dos familiares, precisando esconder-se das demais pessoas e até dos amigos, para realizar atos que eles mesmos consideram absurdos. Como não conseguem controlar-se e evitá-los, interpretam tal necessidade como mania , uma espécie de loucura, fraqueza, desvio moral ou da personalidade, o que aumenta a autocrítica, os sentimentos de culpa, e diminui a auto-estima e, não raro, depressões.

Isto é muito comum naqueles pacientes cujas obsessões são pensamentos impróprios envolvendo agressão, sexo, pensamentos obscenos ou blasfêmias, ou quando o TOC é muito grave e incapacitante. Muitos familiares também não compreendem as manifestações do TOC, ainda mais que em muitas situações interferem de forma acentuada nas rotinas da própria família e no desempenho profissional ou escolar do paciente.

 Quais são as formas mais comuns de TOC?

As obsessões mais comuns são as relacionadas com sujeira e/ou contaminação seguidas de compulsões ou rituais de lavagens (das mãos ou do corpo, das roupas) e da necessidade de evitar tocar em objetos ou pessoas, ou andar em lugares considerados contaminados.

Também são comuns pensamentos relacionados com agressão, sexo impróprio ou blasfêmias; medos absurdos de que possa acontecer algo de ruim para si ou seus familiares; dúvidas quanto a melhor decisão; preocupações exageradas com exatidão, perfeccionismo, simetria, alinhamento, e lentidão para executar as tarefas do dia-a-dia.

As compulsões mais comuns são a necessidade de lavar repetidamente as mãos, as roupas, o corpo; evitar o contato com objetos considerados contaminados, como por exemplo, trincos de portas, bolsas, roupas, corrimãos de escadarias ou ônibus, assentos de banheiros públicos, não usar toalhas dos demais membros da casa, não sentar em bancos de praças; verificar repetidamente portas, janelas, torneiras, gás, interruptores, aparelhos elétricos; realizar contagens, repetir números ou palavras mentalmente; repetir atos, toques, gestos.

Alguns pacientes são também extremamente lentos, geralmente em função das dúvidas antes de tomar decisões ou das compulsões mentais. Na maioria das vezes, existem diversos tipos de sintomas simultaneamente. Existem transtornos relacionados ao TOC, cujos sintomas lembram compulsões ou mesmo obsessões, e que é interessante distinguir pois, em geral, o tratamento é diferente. Alguns deles são mencionados a seguir:

Tricotilomania consiste na compulsão por arrancar os próprios cabelos de maneira recorrente. Em geral o ato de arrancar cabelos não é precedido por um desconforto físico, ou malestar um pouco diferente das obsessões que precedem as compulsões do TOC. Pode ser tratada por uma terapia comportamental específica que inclui a chamada de reversão de hábitos e, eventualmente, responde aos mesmos medicamentos utilizados no TOC.

Tiques movimentos ou vocalizações súbitas, rápidas, recorrentes, não rítmicas e estereotipadas em resposta a sensações subjetivas de desconforto, como exemplo, piscar os olhos, mostrar a língua, pigarrear, fungar. Geralmente são involuntários e a pessoa tem pouco controle sobre eles. É comum a presença de tiques em portadores de TOC e, em geral, não repondem à terapia cognitivo-comportamental.

Transtorno de Tourette é um transtorno neurológico caracterizado por tiques motores e vocais simultaneamente. Não apresenta uma boa resposta à terapia cognitivo-comportamental e, muitas vezes, há necessidade de ministrar ao paciente um medicamento da classe dos neurolépticos. Em geral, o TOC associado a Tiques ou Tourette é anterior à adolescência e mais comum em meninos.

Hipocondria preocupação exagerada com doenças; o paciente, muitas vezes, acredita que é portador de uma doença grave (AIDS, câncer), sem que haja evidências. Pode responder à terapia cognitivo-comportamental e aos mesmos medicamentos que são utilizados no TOC.

 Quais as causas da TOC?

A ciência tem conseguido esclarecer vários fatos em relação ao TOC, embora não consiga ainda esclarecer suas verdadeiras causas. Provavelmente, concorrem vários fatores para o seu aparecimento, tornando-se cada vez mais evidente que na origem dos sintomas do TOC concorrem diversos fatores: de natureza biológica envolvendo aspectos genéticos, neuroquímica cerebral, lesões ou infecções cerebrais; fatores psicológicos, como por exemplo, aprendizagens erradas (aprender a aliviar uma o medo que acompanha uma obsessão realizando compulsões); crenças distorcidas (superestimar o risco de contaminação ou de cometer falhas) estressores, e até culturais como o tipo de cultura ou educação recebida.

Na verdade não estão bem esclarecidas as causas do TOC, até pelo fato de que seus sintomas, seu curso, e a resposta aos tratamentos são muito diversos.

Os fatores neurobiológicos

Na medida em que as pesquisas avançam, tem ficado mais evidente a importância dos fatores de natureza biológica na origem dos sintomas do TOC. As evidências neste sentido são o fato de o TOC ocorrer após traumatismos, lesões ou infecções cerebrais; ser muito comum que numa mesma família existam vários indivíduos acometidos, sugerindo uma predisposição genética. Além destes fatos, foi, sobretudo importante a descoberta de que determinados medicamentos que estimulam de alguma forma a assim chamada função serotonérgica cerebral reduzem os sintomas de TOC.

Este último fato nos faz pensar que deva existir um distúrbio neuroquímico do cérebro dos portadores do transtorno, envolvendo o funcionamento das vias nervosas quem utilizam a serotonina (substância que existe naturalmente no cérebro) e que está envolvida na transmissão dos impulsos nervosos.

Observou-se, ainda, que certas zonas cerebrais são hiperativas em portadores de TOC, isto é, funcionam mais do que em indivíduos que não são portadores (na parte frontal região periorbital, em regiões mais profundas do cérebro gânglios ou núcleos da base como o tálamo, o núcleo caudado, putamen). Esta hiperatividade tende a se normalizar tanto com o tratamento medicamentoso, como com a terapia congnitivo-comportamental.

O TOC é também uma doença familiar: se existe um portador na família, a chance de existirem outros indivíduos comprometidos aumenta ao redor de 4 vezes. Também é muito mais comum em gêmeos idênticos (univitelinos) do que em gêmeos não idênticos. Esses fatos levam a crer que possa existir um componente genético no TOC. Como se vê, são evidências, porém muito genéricas, para a hipótese de que exista algum tipo de disfunção neuroquímica no funcionamento cerebral nos portadores do TOC.

Existem, entretanto, fatos que a pesquisa não conseguiu esclarecer: a resposta de muitos pacientes aos medicamentos inibidores da recaptação de serotonina é parcial ou mesmo nula, e se desconhece o motivo. Além disso, ocorrem obsessões e compulsões em doenças neurológicas como encefalites, associadas a tiques, ao Transtorno de Gilles de la Tourette, à febre reumática ou mesmo a outras doenças neurológicas ou psiquiátricas. São fatos cujo esclarecimento continua desafiando os cientistas do mundo inteiro.

Fatores de natureza psicológica

Sabe-se, ainda, que os fatores de natureza psicológica influem no surgimento, na manutenção e no agravamento dos sintomas de TOC. Os pacientes aprendem que usando certos rituais ou outras manobras psicológicas, como atos mentais ou evitando o contato com as situações ou os objetos temidos, obtêm alívio da aflição e do medo (neutralizam) que normalmente acompanham seus pensamentos (obsessões), e por este motivo passam a repeti-los, mesmo que isto signifique estar mantendo ou agravando a doença.

É bastante comum ainda que os sintomas surjam depois de algum estresse psicológico. Sabe-se também que conflitos psíquicos agravam os sintomas.

Cada vez mais claro a existência de certas alterações no modo de pensar, de perceber e avaliar a realidade por parte destes pacientes (distorções cognitivas). Eles tendem a supervalorizar a importância dos pensamentos como se pensar fosse o mesmo que agir ou desejar; exageram o risco e as possibilidades de ocorrerem eventos desastrosos (contrair doenças, perder familiares, contaminar-se); tendem a superestimar a própria responsabilidade quanto a provocar ou prevenir eventos futuros; são perfeccionistas, perdendo muito tempo com a preocupação de fazer as coisas bem feitas e evitar possíveis falhas ou imperfeições; e imaginam modificar o curso futuro dos acontecimentos, de impedir que desastres ou doenças aconteçam, com a execução dos rituais (pensamento mágico).

Cada paciente pode apresentar uma ou mais destas distorções, que são mantidas, mesmo com as evidências sendo contrárias a elas, ou apesar de não terem comprovação na realidade.

Supõe-se ainda que fatores ligados ao tipo de educação (mais ou menos severa ou exigente, incutindo culpa ou não), ao tipo de cultura social e familiar, possam também influir na origem de crenças e regras que regem a vida da pessoa criando uma espécie de terreno propício para o surgimento do transtorno. Por estes motivos, usualmente se associam aos medicamentos, terapias psicológicas no seu tratamento.

 O TOC tem tratamento?

Até bem pouco tempo não se dispunha de um tratamento efetivo para o TOC. Felizmente, foram desenvolvidas terapias que conseguem melhorar a vida de mais de 80% dos pacientes e, em muitas situações, eliminar os sintomas completamente.

No entanto, alguns pacientes, infelizmente, não melhoram, ou melhoram muito pouco, mesmo com os tratamentos mais modernos que consistem na associação de duas modalidades: medicamentos e terapia cognitivo-comportamental (TCC), razão pela qual em todo mundo muito se pesquisa ainda para conhecer melhor a etiologia do TOC e para desenvolver métodos mais eficazes de tratamento.

 Quais são os medicamentos usados no tratamento do TOC?

São medicamentos chamados de antidepressivos e que se descobriu que possuíam também uma ação antiobsessiva. São os seguintes:

  1. Clomipramina (Anafranil)
  2. Paroxetina (Aropax, Pondera, Cebrilin)
  3. Fluvoxamina (Luvox)
  4. Fluoxetina (Prozac, Psiquial, Verotina, Daforin, etc.)
  5. Sertralina (Zoloft, Tolrest)
  6. Citalopram (Cipramil, Procimax).

Foram recentemente lançados os genéricos da maioria desses medicamentos. As doses, em geral, são mais elevadas do que as utilizadas na depressão. Não se assuste se o médico lhe recomendar doses aparentemente muito altas.

A RESPOSTA AOS MEDICAMENTOS É IMEDIATA?

Em geral não é. Pode demorar até 12 semanas para iniciar, razão pela qual o medicamento não deve ser interrompido se o paciente não sentir benefício após as primeiras semanas de uso. O médico, em geral, procura usar inicialmente uma dose média e, caso não haja nenhuma resposta em 4 a 8 semanas ou uma resposta parcial em 5 a 9 semanas, poderá elevar as doses para os seus níveis máximos, pois alguns pacientes só melhoram com níveis bastante elevados do medicamento.

É importante salientar que 20% dos que não respondem a uma droga poderão responder a uma segunda. Por este motivo é possível que o médico queira experimentar uma segunda droga depois de algum tempo. Também é comum a associação com outras drogas quando a resposta não é satisfatória.

O DESAPARECIMENTO DOS SINTOMAS PODE DEMORAR MUITO?

Em geral é gradual, podendo ser progressivo ao longo de vários meses e não rapidamente como ocorre em outras doenças como a depressão ou o pânico. A melhora tende ainda a ser incompleta, isto é, não há em geral uma eliminação total dos sintomas, embora 40 a 60% dos pacientes obtenham uma redução significativa na sua quantidade e intensidade.

 PODEM OCORRER RECAÍDAS?

É alto o índice de recaídas se houver interrupção da medicação, quando ela está sendo utilizada isoladamente. Uma pesquisa mostrou que em até 90% dos pacientes ocorre um retorno dos sintomas 4 meses após a descontinuação do medicamento.

Aparentemente, esta recaída é maior do que a que ocorre com pacientes que realizaram terapia cognitivo-comportamental, razão pela qual sempre é recomendável utilizar os dois tratamentos ao mesmo tempo. Mesmo durante o uso do medicamento, embora seja mais raro, podem ocorrer recaídas ou piora dos sintomas.

 É POSSÍVEL UM DIA DEIXAR DE USAR A MEDICAÇÃO?

Naqueles pacientes que têm um transtorno crônico e que apresentaram uma boa resposta usando apenas medicação, os especialistas recomendam manter o tratamento pelo menos durante um ano depois do desaparecimento dos sintomas. Caso tenham realizado também terapia cognitivocomportamental devem manter, pelo menos, por mais 6 meses. Depois deste período, recomenda-se uma retirada gradual, retirando 25% da droga a cada dois meses. Em pacientes que tiveram 3 ou 4 recaídas leves ou moderadas ou 2 a 4 recaídas graves, estuda-se a possibilidade de manter a medicação por períodos maiores ou talvez por toda a vida.

É bom lembrar que estes medicamentos não provocam dependência (não viciam), embora possa haver algum desconforto se eles forem suspensos abruptamente (síndrome da retirada). Não há problemas maiores em se utilizar por longos períodos. É importante comunicar ao médico todos os demais medicamentos que, eventualmente, estiver utilizando, pois podem ocorre algumas interações importantes.

 QUAIS SÃO OS EFEITOS COLATERAIS MAIS COMUNS?

Muitos pacientes abandonam a medicação por causa dos efeitos colaterais. É importante lembrar que, embora incômodos, eles são mais intensos nas primeiras semanas de uso e que, em geral, diminuem depois. Os mais comuns da clomipramina são: constipação intestinal, tonturas, queda de pressão arterial, boca seca, visão borrada, sonolência, retardo na ejaculação. São mais raros tremores das mãos e suores noturnos. Os mais comuns da fluoxetina, sertralina, paroxetina, flluvoxamina e citalopram são:

  1. inquietude;
  2. náuseas;
  3. dor abdominal;
  4. diarréia;
  5. insônia;
  6. dor de cabeça;
  7. disfunção sexual (diminuição da libido e anorgasmia nas mulheres; diminuição da libido, retardo na ejaculação e dificuldades de ereção nos homens);
  8. tremores;
  9. sonolência eventual;