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Esses adolescentes… o que falam? O que sentem? Provocam, despertos, espertos. O que querem? O que recebem? De seus pais, de seus adultos…

Assim como nesse movimento de intensas transformações, os pais também alcançam um momento muito forte no desempenho de seu papel como cuidadores e orientadores de seus filho, não mais crianças. E sim, nesse segundo nascimento, adolescentes, tomados de outros olhares e escutas. Estão agora olhando para muito além do conhecido. E escutando outras vozes, questionam e colocam seus pais em um contraponto diferente, muitas vezes recorrente. O contexto é outro. E tem vezes que se repetem os confrontos, até que se encontre a resposta, inclusive para questões não formuladas claramente.

Suas falas são significativas:

“A paz que você procura está no silêncio que você não faz “. C. 17 anos, janeiro de 2014.

“Se a infância é o tempo para aprender a viver, a idade adulta deveria ser o tempo para se aprender a morrer, com dignidade e ética “. M. 15 anos, fevereiro de 2014.

Há anos atrás, pelos idos dos anos oitenta, no papel de educador, escutei o menino interno, com o diagnóstico do desvio de conduta com alta periculosidade. Falou ser “o adolescente bonzinho e o menor infrator ” E.  15 anos, 1981.

O que quis dizer? Que somos todos assim, soma de partes? Que temos o cedo e o tarde, o longe e o perto em nossas vida?

A vida é dialógica. Temos o papel e o contra papel. Só sou pai porque tenho o filho. E sou filho, eu mesmo, não sua extensão.

Soltar a pipa. Dar linha – e que seja sem cerol!

A pipa vai aos ares, impulsionada pelo que a solta e ao mesmo tempo segura. Dar corda, e cuidar. Quão mais distante do soltador da pipa, maior é a força do vento. Logo se faz uma certa contração muscular. Se olha a pipa com mais atenção e cuidados, e se sente a força que se faz para não perdê-la.

Os filhos, voam. Devem alcançar os céus! Esse é um desejo feliz de seus pais. Que consigam voar, alcançar… que possam ser felizes em sua vida.

E vejam, na medida de vôos  mais altos, os cuidados hão que ser mais praticados. Os filhos crescem em seus tamanhos, formas e cores. São nossas pipas voadoras! Pipa tem que voar;  se não, pipa não é, em sua plenitude. Que bom que haja esse que olha, com os pés no chão!

Edson de Souza Almeida é psicoterapeuta de adultos e adolescentes, atendendo pelos procedimentos individual, de casal, familiar e grupal.  Terapeuta Familiar Sistêmico e Psicodramatista.

 

 

Festas de casamento, juras de amor, viagens, a casinha dos sonhos! O encanto pelo outro, a vontade de estar junto, o cuidar e ser cuidado, assim começam as relações. Duas pessoas se encontram na vida, sentem o desejo de se aproximar, conviver e passam a ter a vida a dois.

A vontade de estar sempre juntos, o beijo, a brincadeira, a emoção do toque, faz crescer a convivência. O tempo passa e chega, o dia a dia, da relação. Os olhos começam a enxergar as atitudes de cada um, o jeito de ser, as manias, os defeitos, antes encobertos pela fantasia da paião. Somam-se duas histórias, duas famílias de origem, conteúdos internos de cada um e juntos passam a administrar o caminho da vida. Em algumas relações, chegam os filhos, e nem sempre vão encontrar pais e mães prontos para os papéis de pai e de mãe.

O sentido da vida será transmitido pelos pais através de suas vivências, para esta criança que vem ao mundo. Quantas mamães que ainda não estão prontas para a maternidade ”Quantos papais que ainda no papel de filho, dependentes, já estão gerando filhos” Precisam ainda de plenos cuidados e é difícil cuidar de alguém. Permanecem na relação simbiótica, narcísica e egocêntrica.

Na relação a dois, vivem intensamente as relações da paixão, mas não estão prontos para a construção do amor. A relação afetiva primária materna, mal resolvida, ou não internalizada vai refletir na relação do triângulo: mãe, filho e pai. E quando isso acontece, é comum que o homem, não preparado para ser pai, sinta-se abandonado pela mulher que cuida da criança e também, tenha dificuldade em compartilhar com prazer, o cuidar do filho.

Chega a competir com o filho a atenção da mãe mulher. Se coloca de lado, carente, como abandonado. Muitos nesta fase partem em busca de uma outra paixão, que viva exclusivamente para ele. Vivem relações e não relacionamentos.

Recentemente numa palestra, alguém indagou: se vemos esta dificuldade refletindo no compartamento de um filho, como localizar a culpa e o que fazer? – “não vamos falar de culpa, mas sim, da responsabilidade e interesse dos DOIS em procurar ajuda e querer melhorar”. Muitas vezes o conteúdo de um pode ser mais pesado para a harmonia do ambiente. Mas se um dos dois ficou na fase regredida,simbiótica das relações, certamente vai resistir a olhar para si, pois não consegue e não permite quebrar sua couraça.

E é olhando para nossa fragilidade que nos tomamos fortes e verdadeiros. A beleza da vida está em nos conhecer, viver emoções, e aprender a achar soluções para as nossas dificuldades. Quando os dois na relação estão abertos à busca do crescimento, o prognóstico é bem melhor: Aprendemos a não apontar as dificuldades do outro, mas sim, a olhar para os próprios conteúdos e respeitar os conteúdos do outro. Cada um se resolve no seu próprio ritmo, e juntos podem tentar construir um caminho comum.

Festas de casamento, juras de amor” vimos que a maturidade de cada um somada ao desejo de acertar, são responsáveis pelo bem estar da relação. “Para Moreno, considerado o pai do psicodrama”, um verdadeiro encontro implica na inversão de papéis: “te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus.” Infelizmente, muitos encontros levam a desencontros.

No Brasil aumentam a cada ano os rompimentos. Não existem anos de casados para as crises, mas sim fases do relacionamento. Fase da paixão e encantamento, reconhecimento do outro, atritos com relação as diferenças, posse, competição, e como já falamos, só se ambos se interessam pela busca de ajuda, vem a chance do reencontro.

A entrega do casal para a busca de ajuda direciona a relação para uma fase de maturidade e respeito pelas diferenças, possibilitando uma convivência melhor e até de carinho. Entram também modelos, conteúdos internos, e a matriz de casamento das famílias de origem de cada um. Muitas vezes um internalizou a estrutura de família como núcleo agradável, o outro como compromisso, peso, sufoco, chatice, competição.

Quando aparecem estas duas histórias, vão, sem dúvida, bater no desencontro. E para arrumar, ambos tem que desejar a busca de ajuda para refazer as cenas em busca do bem estar da convivência.

Vamos agora considerar o desgaste da relação amorosa, as diferenças de objetivos de vida, a separação do casal. E os filhos? Continuam crescendo, estão no processo de formação. Pai será sempre pai e mãe sempre mãe. A criança precisa de respeito, cuidado, afeto e disciplina. A meta de ambos deverá sempre ser favorecer um bom desenvolvimento do filho.

Não devem de maneira imatura, competir quem é melhor, quem brinca mais ou quem faz mais as vontades da criança. Estariam transferindo para os filhos em formação “coisas não resolvidas entre eles”. A consciência de educar deve ser a mesma para os dois. Se existirem ainda mágoas por parte de um, que venham a dificultar as metas da educação, os pais deveriam, PELO BEM DO FILHO, procurar acompanhamento terapêutico para lidar com os acertos. O objetivo é cuidar bem da criança, tanto por parte do pai, quanto por parte da mãe.

E os pais se sentem muito melhor, quando percebem que podem crescer.

Muitos pais só assumem o filho nos finais de semana, nas horas de lazer, brincadeiras, passeios. O ideal é que convivam também um dia de semana, para lidarem com a rotina escolar do filho. A criança sempre necessita de amor e disciplina. Relação com os filhos é para toda a vida. Os pais é que jogam a semente do amor e respeito no coração dos filhos. Depois precisam cuidar para cultivar bons frutos.

No sentimento e responsabilidade de cada pai, já deveria estar internalizado o desejo de cuidar do filho, proporcionando a ele, qualidade de vida. Na ética do ser pai, na ética do ser mãe, a pensão necessária para a vida dos filhos deveria ser justa e espontânea e não precisariam existir buscas na justiça. Como seria mais tranquilo para as crianças e adolescentes se o papai olhasse espontaneamente para as suas necessidades e sentisse prazer em estar proporcionando-lhe o conforto de vida.

Vamos reavaliar. Se tivemos oportunidade de ser pai e mãe, vamos aprender, vamos desfrutar deste papel com dignidade. Estamos a cada momento tecendo a teia das relações, através das palavras, dos silêncios, dos gestos, do carinho, da compreensão, do apoio, do compartilhar e principalmente através do nosso crescimento e do respeito ao outro.

Amor? Filhos para sempre. Filhos gente, ou filhos sementes, que deixamos, como parte de nós, para os canteiros das relações, para continuar a construção do mundo e fazer parte da história da humanidade.